25 de mai. de 2012


Meditação
(Parte 2)

O Efeito do Karma Yoga

     Com a atitude de Karma Yoga é possível aprender através das nossas experiências. Uma mente reativa não tem capacidade de aprender, pois não consegue ver as coisas objetivamente. A experiência é o melhor professor se a assimilamos sem reagir; mas na maior parte do tempo não aprendemos nada com elas e acabamos por nos arrepender.
     O aprendizado acontece nos momentos em que a nossa mente não está reativa, por mais raros que estes momentos sejam. Não há como aprender quando sua mente está identificada com a raiva ou qualquer sentimento parecido. Este estado mental não é receptivo. Por causa destas reações, nos tornamos incapacitados de aprender pelas nossas experiências.
     Se um resultado não está de acordo com nossas expectativas, o aceite, ou mude sua trajetória, e aja novamente. Se nossa ação falhar, não somos uma falha se aprendemos a partir desta experiência. Iremos desenvolver assim uma mente não reativa, capaz de aprender.

Os Valores Éticos = Qualidades da Mente = Jnanam

     O Gita denomina um conjunto de valores como jnanam, que significa conhecimento, e representa as diversas qualidades da mente na presença da quais, em medida relativa, o conhecimento do Ser pode ocorrer (o conhecimento do Ser é tanto o meio quanto o fim do ensinamento de vedanta). E quando a ausência dessas qualidades é significativa, o autoconhecimento não ocorre. Jnanam prepara a mente para vedanta.
     Karma Yoga ajuda a ganhar o preparo mental que capacita você a adquirir o conhecimento que é a libertação (moksha).
     Jnanam são os valores necessários para preparar a mente para o conhecimento. Os valores são um estado da mente que reflete certos valores universais e atitudes éticas. A descoberta e a assimilação dos valores por si só constituem a preparação da mente, tudo o mais é secundário. O jnanam (conhecimento) dos valores é a preparação para a conquista do autoconhecimento. Isso não quer dizer que o conhecimento do Ser ocorrerá se a mente tiver os valores apropriados, mas que poderá ocorrer. Sem os valores apropriados não ocorrerá.
Resumindo:

- valores apropriados presentes: o autoconhecimento pode ou não estar presente.
- valores apropriados presentes: o autoconhecimento pode ser obtido.
- valores apropriados ausentes:  o autoconhecimento não pode ser obtido.

     Um valor é a consideração por alguma coisa, ou uma atitude apreciada ou estimada pelo dono do valor. Em sânscrito, um valor ético pode ser definido como Dharma, que é um padrão ou norma de conduta originado na maneira pela qual eu desejo que os outros me vejam ou me tratem. O que espero ou desejo dos outros se torna meu padrão de Dharma (comportamento adequado). Não posso “fugir” dos valores porque ninguém, vivendo neste mundo, pode fugir dos relacionamentos, e com os relacionamentos vêm os valores. Se desejar que a outra pessoa se comporte de certa maneira, então estou preso a um sistema de valores.
     Karma Yoga é cuidar e observar meus gostos e aversões, isto pode apenas ser feito e trabalhado através de nossa interação com o mundo externo.
     Ninguém quer a mente em conflito. Na presença de conflito, problemas com a mente são inevitáveis: autocondenação, ansiedade, arrependimento, culpa, sentimento de fracasso. Os conflitos aparecem quando sou incapaz de viver de acordo com um determinado valor que, consciente ou inconscientemente, aceito. Quando não posso viver de acordo com minha estrutura de valores, fico em conflito e sofro de culpa.
     Valores: não violência, constante vivência do autoconhecimento, apreciação do objetivo do conhecimento da verdade, firme devoção com a visão não dual, reflexão sobre a limitação do nascimento, morte, velhice, doença e dor, adaptabilidade, etc. Valores que devem estar presentes para que a mente do buscador esteja preparada para o conhecimento do Ser.
     Valores éticos: universais no conteúdo e relativos na aplicação.

Karma Yogi
     O Karma Yogi também tem gostos e aversões, mas os abandona, significando que ele não é guiado por eles. Ao invés de ir por “devo fazer isto” e “não devo fazer aquilo”, ele vai pelo que deve ser feito, de acordo com Dharma e Adharma. Neste caminho, os gostos e aversões da pessoa são abandonados até certo ponto e aqueles que permanecem são buscados de acordo com o Dharma.
     Ao satisfazer qualquer desejo, existe uma escolha envolvida. As escolhas são determinadas pelos gostos e aversões de alguém. Se algo tem que ser feito, o Karma Yogi faz independente se ele gosta ou não. Agindo assim ele renuncia a determinados gostos e aversões.

Dhyana
     Capacidade da mente de ficar com ela mesma ou com o objeto de meditação.   
     É para estabilidade mental.
     Na meditação, ato de meditar, somente a mente está envolvido. É uma ação nascida puramente da mente. Pode ser rezar, contemplar ou qualquer outra disciplina interior; é puramente interior.
     Para obter firmeza (constância, regularidade) mental e a calma (serenidade, tranqüilidade) necessária para adquirir autoconhecimento existe a disciplina interna da meditação.
     Exercer o estado de ausência de distrações.


Preparação para Meditação
     Qualquer coisa que entre em contato com os órgãos dos sentidos é chamada de objeto. Os órgãos dos sentidos são expostos aos objetos dos sentidos significando o mundo. 


Órgãos dos sentidos            Objetos dos sentidos

Olhos                                   cores e formas
Ouvidos                               sons
Nariz                                   cheiros, odores
Língua                                 gostos, sabores
Pele                                      texturas


Como Manter os Objetos Externamente
     Todos os objetos (pensamentos) entram na mente através dos sentidos. Na meditação, todos os objetos externos devem ser mantidos externamente. Você simplesmente deixa de pensar neles. Você direciona sua mente para alguma outra coisa. Não tem que rejeitar, reprimir ou mandar embora os objetos, apenas deve-se deixar eles exatamente onde estão.
     Os objetos, primeiramente, entram na sua mente por você pensar neles. Entretanto, você não pode culpá-los por estarem em sua cabeça. Não pense sobre eles e eles não estarão lá.
     Os objetos já estão externos e, não dando importância para eles, irão manter-se externos. Assim se mantém os objetos externamente.
     Os olhos são mantidos fechados. Manter os olhos fechados facilita o pensar num objeto de meditação. Fecham-se os olhos para eliminar distrações.


Observando a Respiração
     Manter um ritmo entre inspiração e exalação. Ficando consciente do processo da respiração, observando-a, ela se torna calma. Ligado a isso vem o relaxamento do corpo e o aquietamento da mente.

Livre do Medo 
     A pessoa se vê livre de desejos, medo e raiva. A pessoa fica emocionalmente madura no sentido de não estar mais sobre o feitiço do desejo, medo ou raiva. Tal pessoa é naturalmente sempre livre, por causa do autoconhecimento. Conforme o processo de autoconhecimento acontece, a identificação com os pensamentos (sentimentos) vai diminuindo.
     Meditação é uma prática (sadhana), um meio para adquirir a libertação.

Toda Ação Nasce na Mente 
     Na verdade, toda ação nasce na mente, mas não necessariamente permanece nela. Apesar de todas as formas de ação emanar da mente somente, elas nem sempre param nela (ex.: ação de falar). Mas em Dhyana, a atividade nasce na mente e permanece nela, então é puramente uma ação mental. Uma atividade que é uma prática, um meio, yoga.
     Toda preocupação é também uma atividade mental. Uma pessoa preocupada constantemente não pode dizer que está meditando.
     Dhyana é uma ação mental onde o assunto é pré-determinado, o tema é o ilimitado Brahman. È uma atividade mental onde todos os pensamentos que não se referem ao objeto escolhido são removidos, e onde apenas aqueles que se referem ao objeto escolhido fluem por um período de tempo.

Uma Mente “Viajante” Faz Parte da Meditação 
     Quando a mente “viaja” fora do objeto da meditação, deve ser trazida de volta para o objeto meditado. Este dispersar faz parte da meditação. Quando a mente perder o foco, simplesmente traga-a de volta. Se a mente não perder o foco em nenhum momento, isso é chamado samadhi (estar muito próximo do objeto a ponto me ver como o próprio objeto).

Meditação não Envolve Apenas Vontade/Disposição 
     Meditação é algo que alguém pode fazer se sentir vontade, mas apenas será efetiva se a mente estiver preparada. Uma disposição para meditação não é criada pela vontade, mas você pode ir sentar e tentar meditar. Tal disposição ocorre quando você está pronto para isso e esse preparo é o que chamam de prontidão mental. Adquirir esta prontidão não ocorre com o tempo, mas é criada por viver uma vida de Karma Yoga.

Obstáculos 
     Doença, inércia, dúvida, negligência, preguiça, equivocação na tomada de decisões, inconstância, instabilidade.

Receita para o Sucesso na Prática 
     Dedicação, desapego, esforço, confiança, atenção, energia, sabedoria.


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