16 de abr. de 2012

SURFOPANISHAD

     

     Num “secret spot”, um surfista velhinho se prepara na areia para surfar em seu pranchão. Algum tempo depois aparece um rapaz com sua pranchinha, rápida e moderna. O jovem assiste, pasmado, aos exercícios e movimentos que o ancião está fazendo para se aquecer. Ao terminar, o velhinho senta de pernas cruzadas e fecha os olhos. O rapaz se aproxima curioso, senta-se ao lado dele e espera ansioso para fazer perguntas e conversar. Assim que o ancião abre os olhos, o jovem inicia um diálogo:

- Quem é você? - Indaga o rapaz.
- Sou Consciência - Disse o ancião.
- Porque está demorando tanto para entrar no mar?
- Apenas fluo, deixando o tempo passar naturalmente, sem ansiar para que ele passe mais depressa, sem me apegar e querer que ele ande mais devagar.
- Entendo, mas vamos surfar?
- Três são as possibilidades: surfar, não surfar, ou surfar de modo diferente...
Ambos entram no mar. Remando em direção às ondas, o rapaz pergunta:
- Como estará o surf?
- Quatro podem ser os resultados: pode ser que as condições de surf estejam exatamente como esperamos, pode ser que estejam melhores do que imaginamos, pode ser que estejam piores, e pode ser que aconteça algo totalmente diferente do nosso plano de surfar. Independente desse resultado, mantenha a atitude de aceitação grata. Veja o mar e esta oportunidade de surfar, como presentes.   
De repente, sobe uma série gigante e o rapaz, desesperado, pergunta:
- Você não tem medo de morrer?
- O medo da morte vem da identificação com o corpo, é ele quem morre. O Ser não morre. E aliás, veja a situação como ela é: ainda estamos no canal, meu jovem.
Logo depois, o rapaz pega uma onda e ao retornar diz:
- Estava perfeita, mas acabou muito rápido. Você não fica chateado com isso?
- Isso acontece sempre: é assim como qualquer outra experiência do mundo das dualidades: começa, acontece e acaba.
O rapaz, indignado, deixa passar muitas ondas a espera daquela mais perfeita que pensa sempre estar vindo. Muito tempo se passa, o ancião pega várias ondas e, ao retornar de uma delas, o rapaz fala:
- Não consigo escolher corretamente a minha onda: o que devo fazer?
- Quando temos a capacidade de escolher, existem coisas que nos atraem e outras que buscamos evitar. Esta é uma das qualidades responsável por nossos conflitos interiores e destes, surge o sofrimento. Pare de sofrer por um resultado futuro se pode ter um agora, no presente momento.
- Como você pode enxergar as coisas dessa forma tão sábia se você não é um monge, nem está num mosteiro?
- Espiritualidade e vida cotidiana são totalmente compatíveis. Partindo deste ponto de vista, surfo para compreender as leis naturais que regem a existência e para renovar o voto de viver consciente. Assim podemos viver uma vida feliz e livre de conflitos.
Neste mesmo momento, o ancião se despede do rapaz e pega uma bela onda. 
Exercendo a consciência testemunha, podemos observar a nossa paisagem mental: somos o autor, a estória e os personagens.


Esta inspiração veio após ouvir as esclarecedoras palavras de meu professor. Boas ondas! Om tat sat!