SURFOPANISHAD
Num “secret spot”, um surfista velhinho se
prepara na areia para surfar em seu pranchão. Algum tempo depois aparece um
rapaz com sua pranchinha, rápida e moderna. O jovem assiste, pasmado, aos
exercícios e movimentos que o ancião está fazendo para se aquecer. Ao terminar,
o velhinho senta de pernas cruzadas e fecha os olhos. O rapaz se aproxima
curioso, senta-se ao lado dele e espera ansioso para fazer perguntas e
conversar. Assim que o ancião abre os olhos, o jovem inicia um diálogo:
- Quem é você? - Indaga o rapaz.
- Sou
Consciência - Disse o ancião.
- Porque
está demorando tanto para entrar no mar?
- Apenas
fluo, deixando o tempo passar naturalmente, sem ansiar para que ele passe mais
depressa, sem me apegar e querer que ele ande mais devagar.
- Entendo,
mas vamos surfar?
- Três são
as possibilidades: surfar, não surfar, ou surfar de modo diferente...
Ambos entram
no mar. Remando em direção às ondas, o rapaz pergunta:
- Como estará o surf?
- Quatro
podem ser os resultados: pode ser que as condições de surf estejam
exatamente como esperamos, pode ser que estejam melhores do que imaginamos,
pode ser que estejam piores, e pode ser que aconteça algo totalmente diferente
do nosso plano de surfar. Independente desse resultado, mantenha a atitude de
aceitação grata. Veja o mar e esta oportunidade de surfar, como presentes.
- Você não
tem medo de morrer?
- O medo da
morte vem da identificação com o corpo, é ele quem morre. O Ser não morre. E
aliás, veja a situação como ela é: ainda estamos no canal, meu jovem.
Logo depois,
o rapaz pega uma onda e ao retornar diz:
- Estava
perfeita, mas acabou muito rápido. Você não fica chateado com isso?
- Isso
acontece sempre: é assim como qualquer outra experiência do mundo das
dualidades: começa, acontece e acaba.
O rapaz,
indignado, deixa passar muitas ondas a espera daquela mais perfeita que pensa
sempre estar vindo. Muito tempo se passa, o ancião pega várias ondas e, ao
retornar de uma delas, o rapaz fala:
- Não
consigo escolher corretamente a minha onda: o que devo fazer?
- Quando
temos a capacidade de escolher, existem coisas que nos atraem e outras que
buscamos evitar. Esta é uma das qualidades responsável por nossos conflitos
interiores e destes, surge o sofrimento. Pare de sofrer por um resultado futuro
se pode ter um agora, no presente momento.
- Como você
pode enxergar as coisas dessa forma tão sábia se você não é um monge, nem está
num mosteiro?
- Espiritualidade
e vida cotidiana são totalmente compatíveis. Partindo deste ponto de vista,
surfo para compreender as leis naturais que regem a existência e para renovar o
voto de viver consciente. Assim podemos viver uma vida feliz e livre de
conflitos.
Neste mesmo momento, o ancião se despede do rapaz e
pega uma bela onda.
Exercendo a consciência testemunha, podemos observar a
nossa paisagem mental: somos o autor, a estória e os personagens.
Esta inspiração veio após ouvir as esclarecedoras
palavras de meu professor. Boas ondas! Om tat sat!
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